[...] por que ninguém está fazendo nada?
Mal acabamos de terminar de babar pelo iPhone 5, e já nos deparamos com mais uma notícia bombástica: A Samsung anuncia que irá lançar o Galaxy S4 no começo de 2013. Como assim? O Galaxy S3 acabou de sair, ainda está sendo considerado um dos melhores smartphones até o momento, e já estamos falando em sua obsolescência?
Sim, obsolescência, pois embora ele ainda tenha um processamento maravilhoso e tela linda, ele não será mais o top, não será citado em mais nenhum comparativo. Será apenas o modelo anterior do novíssimo, poderosíssimo e espetacular S4. Quem tem um S3 logo começa a procurar datas de lançamento e o preço do próximo queridinho, e seu atual aparelho perde a graça quase que instantaneamente.
Essa “corrida do ouro” está tão exagerada que as pessoas, antes mesmo do lançamento do iPhone 5, já pensavam em iPhone 6! Eu publico vídeos de resenhas na internet, e muitas pessoas vêm me perguntar qual o melhor aparelho para esse ou aquele uso. Algumas delas me perguntam se devem comprar o iPhone 5 ou esperar pelo 6. Isso é quase desesperador de se ver. O consumo desenfreado está chegando a limites extremos, em que não se pensa mais nem no modelo top que foi acabado de lançar, e sim no próximo a ele, que está ainda na prancheta.
E o mercado de rumores começa a funcionar a toda (se é que um dia para), esmiuçando fotos na internet, publicadas por chineses com supostas novas embalagens de um aparelho nas mãos. Logo estão adivinhando novas features, produzindo listas de “o que o iPhone novo precisa ter para ser ideal”. E logo são tantas listas, e tanta expectativa, que na hora do lançamento todos se decepcionam com a falta de features que os publicadores de rumor falaram. “Cadê o NFC? Cadê o iPad mini? Por que não tem leitura dos olhos para destravar a tela?”.
Assim, todos voltam seus olhares para o nem tão próximo lançamento de uma empresa, apesar de comparecerem às para as lojas, adquirindo o mais novo aparelho por “não importa o preço”. Dois disputam o páreo de melhor smartphone, enquanto outros são simplesmente descartados da lista do sucesso. De repente, se você não tem um desses dois não é nada, é lixo. Trabalho com jovens entre 14 a 17 anos, e vejo todos os dias, em conversas descontraídas, um esfregando seu novo smartphone na cara dos outros, enquanto os que não têm nada parecido ficam resignados ou participam da discussão, prometendo em breve adquirir um muito melhor do que os dos outros. Essa é a próxima geração que, já estimulada pela atual velocidade de consumo e de lançamentos, não estará nunca satisfeita com o produto que acaba de comprar e ter em mãos.
Isso nos leva a outro ponto, já conhecido de gerações anteriores, termo cunhado há quase um século: obsolescência programada. Esse termo já era muito citado na década de 70, embora tenha sido citado pela primeira vez em 1920, pelo presidente da GM na época, Alfred Sloan. Projetos de produtos custam caro, e buscam sempre a inovação. Um produto precisa ser rapidamente lançado para que possa recuperar seu investimento em pesquisa. Porém, apesar de processadores de quatro núcleos, tela super brilhante e sistema atualizado, esses produtos são feitos de forma a te deixarem na mão muito em breve.
E quem liga para isso? Quem liga que seu aparelho quebre, uma vez que você já estava de olho no próximo? Talvez essa seja até mesmo a desculpa necessária para você ir lá comprar logo seu novo objeto de desejo. Em mais um dos casos que presenciei entre os jovens com que trabalho, um deles “bricou” seu próprio smartphone afim de convencer a mãe de que precisava de um novo, maior e mais caro. Como resultado, a mãe não quis comprar e agora ele tenta recuperar o que já tem. É um tanto quanto assustador isso.
Consigo perceber tudo isso claramente no meu dia a dia. Quantos não me procuram pedindo ajuda, pois seus aparelhos quebraram do nada? E quando procuram as assistências, essas parecem ser feitas de modo que o consumidor fique tão irritado com o atendimento e o retorno, que acabe comprando um produto novo. Recentemente comprei um micro-ondas da Brastemp, marca reconhecida por sua qualidade (a famosa frase “Ele não é assim uma Brastemp”). Em menos de uma semana, o micro-ondas começou a dar problemas. Visitas de técnicos, gravações de vídeo para mostrar os problemas. O laudo final da empresa era de que o problema estava na fiação elétrica da minha casa, e que não poderiam fazer nada.
Paguei o preço do stress e do nervosismo e, em uma batalha quase épica, consegui que trocassem o produto, que eu rapidamente vendi, sem nem ao menos tirar da caixa. Comprei então um Electrolux, geladeira que já tenho e que gosto da marca porque, apesar de ter dado problemas, me atendeu com qualidade (vejam só, estamos escolhendo não pela qualidade, e sim por quem atende melhor). Pois bem, nem um mês depois e esse também já começa a fazer uns barulhos estranhos. E toca para o
Se na década de 70 as pessoas já reclamavam da tão temida obsolescência programada, e agora que os lançamentos são quase semanais? Por quê uma empresa construiria um produto que dure mais do que dois anos se precisa que o consumidor compre algo novo bem antes disso? Consumidores de tecnologia reclamam quando um aparelho não vem com bateria removível. Pra quê, me pergunto eu? Antes mesmo de a bateria apresentar sinais de cansaço, o aparelho já vai ter sido substituído.
Para os interessados no assunto, sugiro assistirem o documentário The Light Bulb Conspiracy, cujo trailer pode ser visto abaixo (o YouTube tem uma versão legendada completa aqui):
Termino aqui com um trecho da música “A maior banda dos últimos tempos da última semana” (o título da música em si já sintetiza o assunto), dos Titãs: “Não importa contradição / O que importa é televisão / Dizem que não há nada que você não se acostume / Cala a boca e aumenta o volume então”.
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